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Fernando Magno

Biografia

Diplomado em química pela Faculdade de Filosofia e letras da Universidade do ex-Distrito Federal. Aposentado, enveredou pela literatura. Autor dos livros: Retroflexo, Epístola Fragmentada, Canto Entre Amarras, O Dia do Canto Imaginado, América – Um Ver de Olhar, livro que recebeu em 1992 o Prêmio Sesquicentenário de Petrópolis, conferido pela Prefeitura do Município, De Tudo Fica Um Pouco, (Meus Cartões de Drummond), um registro de sua correspondência cavalheiresca, que se prolongou por quase 11 anos com esse poeta e Às Margens do Olhar, um relato autobiográfico.

AINDA QUE EU CHAMASSE RAIMUNDO

Risos
Canastras de papoulas
Janelas que me acenam e me olham
Crianças correndo, sorrindo, se rindo
Domingos bêbados de verões
Nuvens que me apontam sem me tocar
Rastros de luar pelos sertões
Poema branco
Saudade que nunca escrevi
Porque as almas não precisam ler
Porque as almas foram feitas para o amor

CANÇÃO DO TEU NASCER

Havia rosas e orquídeas em teu quarto,
Porque nascera nossa filha.
Havia risos entre mãos que se apertavam,
Porque nascera nossa filha.
Havia uma esperança doida em teu corpo,
Porque nascera nossa filha.
Havia afagos pequeninos em teu seio túrgido e lácteo,
Porque nascera nossa filha.
Havia uma lágrima de alegria em teu olhar de surpresa,
Porque nascera nossa filha.
Havia sumo de felicidade em teus lábios,
Porque nascera nossa filha.
Havia flores enciumadas,
Porque nascera nossa filha.
E derramou –se champanha e brindou-se com vinho,
Porque nascera nossa filha.
E porque nasceu em terras de brasões, de repente,
Assim de repente
Eu me tornava amo e senhor de mais uma rainha.

DO OUTRO LADO DO VERSO

E quando os deuses é que chegam
A vida flui sem descarrilamentos
Nem tormentas
Retilínea, ainda que distrófica
Serena e superior
Como vôo de garças por sobre o espelho da tarde.

E esplende entre alegórica e exuberante
Livre de hiatos e traumatismos
Como a da moça do caixa do supermercado
Alegre como um ar de carnaval
Apesar de seu salário de merda
E do vento frio da porta às suas costas
De inverno a inverno
E das sacanagens de alguns de seus fregueses.

Ou estoura redentora
Como a do moço sem braço do café da esquina
Que num átimo revira só mão
A manteiga pelo pão
A xícara fervente
O troco
A própria vida que lhe sobra, transbordante.

MOLEQUE

Calçadas Muros Quintais
Pitangas Mangueiras
Quintais Muros Calçadas

BOTECO

Lamparina Bigodes Balcão
Bala-Média
Faca Pinga Limão

SANTA TERESA

Arcos Arcos Arcos
Bonde
Franca Paula Freitas Flor-Marina

TEMPO TRANS-VERSO

Meu verso é chão de caminho diverso
Retiro azul do meu pensar
Fome e sede – dores que não sei… Pressenti.
Gula do sol de teu céu desancorado
Adoçante mar
Frouxas verdades empinando-se pro futuro
Soluçantes presenças de pretéritos expiados
Inacabados ais.

Meu verso foi grito de rua
Pra que lembrasse de mim os que me viram passar
Pra que coubessem em mim todos os que amei
Por isto destravo nesta hora este canto entre amarras.

Meu verso é tempo que não meço
Vai por aí por onde nem sempre vou
É rio corroendo barrancos, margens que me viajam
Águas assanhadas que me trazem cobiças
Penetrando meus ossos
Sonhos doídos, moídos de amor. Destroços.
E eu navegando… Navegue assim.