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André Heidmann

Biografia

André Heidmann nasceu no Distrito de Braço do Norte, Município de Tubarão, Sant Catarina, em 30 de novembro de 1933. Filho de Bernardo Heidemann e Katarina Kulkamp Heidmann. É casado com Lea P. Terres Heidmann, com quem tem dois filhos, Miriam e Carlos Henrique. Estudou em Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Formou-se Bacharel em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade Católica de Petrópolis, turma Clóvis Beviláqua. Em 1965 licenciou-se em Letras Anglo-germânicas. Como professor de Latim, Português, Inglês e Alemão: língua e literatura. Exerceu o magistério particular, estadual e municipal, na cidade de Petrópolis. É professor concursado de língua e literatura, no colégio Pedro II do Rio de Janeiro. Lecionou História das Idéias Políticas, Sociais e Econômicas, no Curso de História da UCP, Língua Portuguesa, composição literária e estética literária da Fundação Universitária General Sombra, em Paraíba do Sul e UCP. Língua portuguesa e redação ns cursos de Direito, Ciências Econômicas, Contábeis e Administrativas e Letras da UCP. Foi Diretor do Projeto Rondon, Região Serrana do Estado do Rio, nos anos 1979 e 1982. Participou de concursos literários diversos, pela Associação dos Professores de Petrópolis. Em 1997 representou a UCP nas comemorações do tricentenário da morte do Pe. Antônio Vieira, na Universidade Católica de Portugal, em Lisboa, ocasião em que apresentou dissertação sobre o discurso do orador setecentista Pelo Sucesso das Armas de Portugal contras as de Holanda. Escreveu o manual Estudo de Português, para a primeira série do ciclo médio, Uma Leitura Crítico-valorativa do livro A Era dos Direitos, de Norberto Bobbio, Uma Introdução à Introdução, manual utilizado por seus alunos no primeiro período do Curso de Bacharelato em Direito, no qual lecionou disciplina Introdução ao Direito I, Fale e escreva, Leia e Ouça, mas e Bem, manual de redação e linguagem, utilizado por seus alunos de direito, Ciências Econômicas, Contábeis e Administrativas, a partir de 1973 até 2002. Realizou palestras sobre temas literários, políticos e jurídicos, no Rotary Clube, Elos Clube, Lions Clube, Associação dos Professores de Petrópolis, Academia Petropolitana de Letras, UCP. Foi Membro da Academia Petropolitana de Educação e da Academia Petropolitana de Poesia, |atual Academia Brasileira de Poesia, Casa de Raul de Leoni, um dos seus fundadores, onde ocupou a cadeira n° 02, cujo patrono é o poeta Alberto de Oliveira.

Hortênsias

As hortênsias florescem,
Como olhos coloridos de insetos,
Abertos para todas as paisagens
E todas as primaveras.

O ar está cheio de cores
Que respingam sob os passos
E explodem nas mãos que semeiam.

É novo tempo nos jardins,
Onde se colhe, de repente,
A beleza eterna do transitório.

As cigarras dão aos parques
Um gosto limpo de campo,
Às árvores, a impressão
De monstros híbridos e frenéticos,
E aos homens, a esperança
Da remição de seus crimes ecológicos.

E eu me pergunto se sobrevivo
Ao momento atual das cores,
Ou se morro com o luar,
Em sua frágil ilusão de vida.

Petrópolis, 1982.

Criação

A explosão do caos primitivo
Continua ecoando pelo espaço.
As ondas divulgam
A epopéia da criação.

As palavras fraturam-se
Em sua impotência de DNA
E cifram o código do Universo.

Lá longe – se é que o longe existe,
Bem de repente, no tempo presente,
Acontecem os animais.

E um deles ergue a cabeça,
Olha em volta e de volta, para cima,
Pisa o chão com força e gana,
E se chama… Homem…

O homem senta-se a esta mesa,
Escreve este testamento
Que resume toda a sua história.

Cecília

Em memória à grande poeta Cecília Meireles

O sol abriu s braços
Sobre a manhã
Num abraço descomunal.

Na eminência da colina
A casinha cândida
É uma pomba branca
Que agita as asas
Das cortinas
Querendo voar
Sobre a paisagem.

Petrópolis, 1984

Rotina

Ando todos os dias os mesmos caminhos,
Persigo as mesmas felicidades
Que já me fugiram milhares de vezes.

Ao calor do meio dia
Busco sombras, e ramos e ermos.
E continuo de rua em rua,
De praça, ponte e lua,
Em silêncio, por falta de termos.
Fecho as mesmas janelas,
Que apenas acabo de abrir:
Abro as mesmas portas,
Que mal acabo de fechar sobre o mundo.
Faço as mesmas perguntas,
A que não tenho respostas.
Abro os mesmos gestos,
Tento o mesmo sorriso.
Que uma lágrima tantas vezes molhou.

Se eu fosse uma coisa…não seria…
Teria apenas função.
Mas sei que sou, na minha essência,
Sei que duvido e sofro
Por você e por mim
Na corda em que me equilibro,
Bem cá em cima
No trapézio de meu circo.
Aqui sou a glória
Da platéia de um instante.
Não sou eu, de verdade,
Eu que estou sempre aqui
Tão cá embaixo…
Se eu fose um objeto, um espinho,
Seria um livro, uma luz, um caminho,
Uma bolsa de mendigo, um sapato…
Seria uma lembrança ou saudade,
Não seria obrigado:
Seria vendido e comprado,
Sem perder a dignidade.

Petrópolis, 1984

Jogo de Palavras

Passatempo

Pouco a pouco eu pego e perco
O passo dos pedidos passados;
Pago pausa perene paga
por promessas perdidas.

-Pálidos pássaros pululantes,
pulam pelos peitos de pedra
dos penedos partidos.

Prometo prece perene ao padre Eterno
Puro, que pode perto perdoar
As penas penosas das pessoas
No poente profundo dos passos pavorosos;
Pai perfeito, perdão permitido
Dos pesares passados.

Porventura posso povoar as praças pacatas
De pulsos e pombas pretéritas
no passo perdido das penas?

Passo e penso o peso
Se posso no pêndulo pulsátil
da ponte pênsil do precipício
donde pendem paredes pardas,
precipitam pavores profundos.

Por passos pequenos eu piso
Por pouco penso apalpar,
prender nos pulsos
pousar a palma premida
No pendão das palmeiras.
Respondo penar penosos pesares
Percebo parcelas pequenas
De pânicos presos pendentes
Por prédios pávidos e pontes,
No pé perseguido paralelo.
Peregrino em passagem
Do espaço patente passivo.

Prometo portanto plantar
Por partes paridas perfeitas
Polícromo pólen das pétalas,
Polir as pedras, perigos.
Respondo aprontos e pontos de pios
No aprumo sem pressa do pássaro.

Repasso, posso e proponho…por quê?
Por perto percebo porto,
Paciente passageiro posso partir.

Ponteios Viajeiros

Cheguei… Cá estou.
Enfrente o mar. Em cima o azul
Ao redor só palavras.

Deixei meu automóvel prosaico
À sombra da casuarina.
Onde estou? pergunto ao espanto.
Você me explica:
– Em Búzios, que alguns chamam céu.

Não me tranqüilizo em meu não saber.
Não cheguei todo, muito de mim
Ainda retardado no trânsito.

Você me sentou no mapa.
Mas se não sei onde o mapa,
Se ao mesmo tempo estou em Aruba,
E estou sobretudo confuso.

Se soubesse onde estou
-Eu comigo mesmo e só,
podia telefonar pra você.
Podia até desfazer as malas
Podia convida-lo a uma visita,
Ainda que só pra sentar na areia nua
Ao crepúsculo, e assistir ao nascer da lua.

………………………………………………………….

É lua cheia, acima da sombra da casuarina
O céu sem nuvens.

…………………………………………………………….

Podia erguer uma barraca,
Ninguém se incomodaria,
Se não tirasse a vista do horizonte.

Até…podia construir um chalé.
Se não passasse de sonho
Inútil à sombra da casuarina.

Se soubesse onde estou,
Não estaria com saudade
Dos lugares onde estive
E não sei onde foi;
Não estaria sempre arrumando as malas
No vão intento de me achar
Inteiro em algum lugar,
Porque inteiro nunca estou
Onde estou agora, inteiramente aqui
Diante do mar…debaixo do azul…
Cercado de palavras por todos os lados.

Petrópolis, 7/7/1993