Biografia
Nascido no Rio de Janeiro em 13 de julho de 1938, além do poeta foi também hipnólogo e ourives de profissão. Publicou seis livros e foi detentor de vários prêmios literários. Integrou, outrossim, na condição de membro honorário, a Academia Petropolitana de Poesia, poeta e trovador, autor dos livros “Caminhos e Descaminhos”, “Tratado Geral de Metrificação”, “Folhas que o Vento Levou” e “Portas Abertas”.
DOIS POEMAS DO LIVRO “Caminhos e Descaminhos”
I
Cheia, redonda e muito pálida
ia a lua se deitando, ao findar a madrugada
quando subitamente, a surpreendi
com o mesmo assustado enleio
com que se surpreende
uma mulher pelada
com a mão no seio
Por um instante paramos, ambos
surpreendidos e enleados
Mas logo ela, puxando sobre si
uma veste de seda
(e fingindo não me ver)
seguiu seu caminho
até desaparecer na alvorada
-como uma mulher, pelada.
II
Acordei no meio da noite
Com um sapo no brejo concertando uma panela
O resto era silencio
Havia talvez um grilo, muito ao longe
Ou era dentro de mim mesmo, muito ao longe
Levantei-me e fui à janela olhar o céu:
Tinha uma estrelinha passando mal
E outras olhando, em torno dela
Para os lados do ocidente, um rubor…
Voltei para cama e fiquei esperando
De longe, do fundo da mata,veio o sinal
Logo mil passarinhos estavam em festa
Cada qual do seu jeito,com sua mensagem
Auroreal
Alguns ainda espreguiçando a voz,ensaiando…
De repente,a sirene agressiva de uma cigarra
Atravessou os ares, como um caminhão
A festa ia pelo fim
Amanhecia
Voltei à janela e vi passar uma borboleta
Acenando com uma bandeira amarela
Já era dia
TEMPORAL TRÊS TEMPOS
No final da tarde
as nuvens perderam o caminho de casa
e ficaram rondando pelo céu, desencontradas
O sol, entre elas, passava de porta em porta
até que entrou numa e desapareceu
As árvores mais próximas
acenavam aflitas
como quem estivesse se afogando
Da Maria Comprida descia um branco lençol
que avançava, rugindo
por sobre as montanhas agachadas
No fundo do vale amotinaram-se os ventos
que logo investiram violentos
contra tudo e contra todos
A natureza pusera-se de joelhos
à espera do que pudesse acontecer
Mas tudo não passou de um grande susto
Pouco depois ressurgia o sol
todo molhado
pousado sobre o gume do horizonte
As árvores ainda contabilizavam suas perdas
quando a noite veio vindo
e instalou-se sobre a terra soberanamente
O céu estava lavado e limpo
Para receber a lua.
Fechei os olhos um instante
quando abri
o menino ia distante
Fechei os olhos distraídos
quando abri
o dia havia morrido
De cansado fechei os olhos
quando abri
a vida havia passado