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Nelson José de Souza

Biografia

Nasceu em Petrópolis, 16 de dezembro de 1941. Engenheiro civil, com participação em diversas antologias e com várias premiações em concurso. Participação em diversas antologias, Poeta, ocupando a cadeira nº 6 da Academia Brasileira de Poesia. Em 1999, obteve o 1º lugar em concurso promovido pela Academia Petropolitana de Poesia – Casa Raul de Leoni e o 2º lugar no Festival de Poesia do SESC. As vezes usava o pseudônimo “Lamar”. Foi um estudioso da vida e obra do escritor José Geraldo Vieira.

ELEGIA À GUIA DA REFLEXÃO

Não faz muito
Uma pedra, não tão grande,
Lá na serra, bem no meio de um rio,
Só queria ver o mundo
Pois bastava de ver mato, de ver sol e de ver noites.

Veio então uma chuva forte,
Mais forte que as outras,
Engrossando as águas do rio,
E as águas levaram lá para baixo
A pedra queria ver o mundo.

Assim que a chuva passou
E as águas se foram,
A pedra pode olhar ao redor
E ver o mundo que queria.
Viu e gostou.

Depois quis voltar,
Mas voltar como?
Veio então um moço e a apanhou.
Levou-a para longe, transformou-a em brita
E daí em concreto.

Foi ser pedra, a jusante, nos pilares de uma ponte
E sempre que chovia e as águas levantavam
Ela chorava, consciente que perdera
Sua vida pelas águas que levavam
Outras pedras lá para baixo.

DO SÁBIO, A ROSA E A MAGIA

Não faz muito, um sábio verdadeiro,
conhecedor da prepotência e hipocrisia,
daquele que sábio se dizia,
assim paradiou a seu respeito:

Da natureza pródiga em beleza,
semeada por anjos em cortejo,
surgiu num dia a mais perfeita rosa
envolvida por luzes e sofejos.

Era suprema em sua formosura
e majestosa em sua plenitude,
talvez, por isso, altiva e presunçosa,
e mais ainda, fria e orgulhosa.

Ao deparar-se um dia com um cravo
foi rude e taxativa com o mesmo:
– Que queres tu de mim, se nem me alcanças,
Subjulgado és, quase rasteiro?

Naquele instante, um cientista pressentindo
seu derradeiro dia de pesquisas
teve noção do quanto desvendara,
mas era cônscio do pouco que sabia.

Se esmiuçara o conteúdo da matéria
usufruindo a energia do seu âmago,
se transplantara vísceras e órgãos
na sobrevida de entes semimortos.

Contudo, era pequeno diante do Mistério,
e como o mais humilde franciscano,
resignado por seu limite humano,
persignou-se na lembrança do Calvário.