Menu fechado

Theo Drummond

Biografia

Théo de Castro Drummond – Foi publicitário na Agência3, da qual foi fundador. Foi jornalista, começando como repórter, depois redator e finalmente colunista de jornais e revistas das décadas 50/60.
Nascido em 1927, no Rio de Janeiro, desde os 9 anos Théo Drummond dedicava grande parte do seu tempo à leitura, principalmente de poesias. Aos 15 anos, resolveu mostrar dois sonetos seus ao então Presidente da Academia Carioca de Letras. Dias depois recebeu a resposta de que seus sonetos tinham qualidade e sensibilidade e que deveria prosseguir escrevendo poesias. Foi o que aconteceu.
Porém foi somente em 1990 que lançou seu primeiro livro de versos com o título “Tempo de Poesia”.

Livros de Théo Drummond:

Poesias:

Tempo de Poesia (1990);
Palavras de Outono (1992);
Vôo de Nuvens (1993);
Versos Antigos (1995);
Caçador de Estrelas (1997);
As Pegadas de Deus (1998);
Vrindavan (1999);
Dedetize sua Vida (2000);
100 Sonetos (2006) e
Porta do Coração (2008).

Prosa:

Palavras de Observante (2002);
Os Velhos Precisam Morrer (2003);
A Formiga e Eu (2004);
Alfred e sua Tara (2004);
Palavras de Observante II (2006) e
A Paulista que Bin Laden Matou (2006).

SE EU ME FOR

Se eu me for, de repente,
não fiques triste, viu?
Lembra tudo o que a gente,
já viveu, repartiu.
Não chores, nem lamentes
aquilo que vivemos.
A saudade que sentes
será do que tivemos,
e um ou outro ausentes,
então, já não teremos.
Se te parecer que é tolo
ter ido embora assim,
pensa, como consolo,
que tudo tem um fim.
Lembre que até o amor,
por maior que ele seja,
por mais fundo que for,
nada há que o proteja.
E é bom que a gente sinta
se ele deve acabar,
e nem chore, nem minta
tentando se enganar.
que só resta esquecer,
Assim, busque entender,
ou pelo menos tente,
se eu me for, de repente.

ENTENDIMENTO

A flor, jeito delicado,
veio da terra, nasceu,
e quando passaste ao lado
vi que a ti se ofereceu.
Pegaste a flor com cuidado
sob um céu cheio de cores,
e ao passares bem ao lado
senti ambos os odores,
e percebi, encantado,
que agora eram duas flores.

O BEIJO

Penso que o beijo que é dado
com amor ou com paixão
fica, na boca, marcado,
mas sua doce prisão
é mais em baixo, do lado
esquerdo, no coração.
E por ter sido vivido
esse beijo apaixonado
que fez o peito aquecido
pelo amor com que foi dado,
nunca será esquecido:
o bem que ele tenha feito
(para que seja lembrado)
ficará sempre guardado
no lado esquerdo do peito.

SE NUM DIA…

Se num dia qualquer
Você lembrar de mim
numa idéia que passa
pela cabeça assim, ´
pelo que der e vier
vai até nossa praça,
pois irá me encontrar
onde sempre estivemos:
no banco hoje sem graça,
para onde apenas vim
mais uma vez chorar,
nesta vida que passa;
o tudo o que perdemos;
o tudo o que nós fomos
o que hoje não temos,
e o que hoje não somos…

ADEUS A MIM

Adeus à minha casa tão querida
que à sua paz há anos me entreguei.
Adeus à verde grama, à flor nascida
em profusão na terra em que as plantei.

Adeus mangueiras, festa colorida
das manhãs de que nunca esquecerei.
Adeus cachoeira gélida e escondida
que me banhava em noites que acordei.

Adeus às coisas todas que eu amava,
aos latidos dos cães quando chegava,
adeus ao cheiro forte do jasmim.

Adeus aos beija-flores, às cigarras,
romperam-se, afinal, tantas amarras,
adeus tempo feliz, adeus a mim!

“RECOMPENSA”

Espero que algum dia alguém que tenha lido
os versos que escrevi, sem qualquer pretensão,
possa entender que tudo, afinal, haja sido
uma busca sem fim da forma de expressão.

Na verdade a poesia para mim tem sido
um modo de entender, com amor e emoção,
tudo o que na vida possa ter apreendido,
e tenha me servido de exemplo ou lição.

No final o que vale é aquilo que deixamos,
e a poesia é uma forma de se conseguir
passar a muito outros tudo o que pensamos.

Se um dia uma pessoa se sentir serena,
e aprender, com o que escrevo, a chorar e a sorrir,
seja ela quem for – terá valido a pena

(Théo Drummond)

PORTA

Meu coração tem porta que consigo
manter trancada porque me convém.
Evito que a presença do inimigo
possa me perturbar, quando ele vem.

Este é um costume meu, bastante antigo.
Aprendi no passado, quando alguém
um dia abriu da porta o seu postigo
entrou, fingiu me amar como ninguém.

Eu sei o quanto o coração sofreu
quando um dia, saindo pela porta
deixada aberta, por descuido meu,

Ela se foi, por outro amor levada,
e hoje, ao meu coração, somente importa,
manter a porta sempre bem trancada.

TUA SOMBRA

Andar por onde andares, onde fores,
serei a sombra que há de te seguir,
vivendo as alegrias, tuas dores,
tudo, afinal, que poderás sentir.

Serei o teu jardim de tantas flores,
serei teus passos, no teu ir e vir.
E igual a um pôr do sol, pleno de cores,
serei quem te fará feliz, sorrir.

Serei teu anjo a te guardar de tudo,
sem nada te dizer, serei o escudo
a suportar tuas raivas e protestos.

Serei quem seguirá por teu caminho,
sombra sofrida a proteger sozinho,
o nosso amor, mesmo que sejam restos.

AMOR LOUCURA

Amo, com toda a força do meu peito,
e é por amar assim que sou feliz.
construí, aos poucos, este amor perfeito,
que sabe ser amor, sabe o que diz.

Amo, com um amor todo ele feito
para nunca acabar, pois sempre quis
ter um amor assim, tão do meu jeito,
e para tê-lo, tanta coisa fiz!

Amo, como se o amor – coisa tão doce –
fosse maior que tudo o que eu aspiro,
fosse melhor que tudo o que já trouxe.

Amo, e até meu último suspiro
vou amar este amor como se fosse
a água que bebo e o ar com que respiro

SANGUE

Tome o meu coração e dele faça
o que quiser, com raiva ou com despeito.
Jogue-o no chão ou guarde-o numa taça:
foi para isso que o arranquei do peito.

Se desejar destruí-lo então desfaça
os vínculos do amor que foi perfeito.
Deixe-o viver um pouco na desgraça,
ou mate-o de uma vez, que é o seu direito.

Mas pode ser que surja, de repente,
um insano desejo de perdoar-me
porque lhe dei meu coração exangue.

Antes que isso aconteça, loucamente,
arranque o seu coração e ao entregar-me,
peça que afogue os dois, em nosso sangue.

ENGANO

É triste perceber
que as pessoas
que te cercam
e te amam
se surpreendem
com os sinais,
cada vez mais aparentes,
de que sua vida
está próxima do fim.

Não sei por que razão,
os que nos cercam
e nos amam,
parecem acreditar
que somos eternos.