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Raul de Leoni

Poeta brasileiro, Raul de Leoni Ramos, nascido a 30 de outubro de 1895, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, e falecido a 21 de novembro de 1926, em Itaipava, distrito de Petrópolis, RJ movimentou-se entre as áreas do neoparnasianismo e, principalmente, do simbolismo.

Em 1916, concluiu o bacharelato em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro. Entretanto, já era colaborador, desde 1914, das revistas Fon-Fon! e Para Todos, e, mais tarde, colaborou no Jornal do Brasil, Jornal do CommercioO Jornal e O Dia.

Muito jovem, ingressou no corpo diplomático brasileiro e, em 1918, esteve destacado em Montevideu, no Uruguai, depois de ter recusado colocação idêntica no Vaticano. Antes, nesse mesmo ano, tinha sido nomeado secretário da Legação do Brasil em Cuba, mas nunca chegou a tomar posse do cargo. Permaneceu apenas três meses em Montevideu e quando regressou foi eleito deputado à Assembleia Fluminense.

Em 1919, lançou o seu primeiro livro de poesia, Ode a Um Poeta Morto, uma homenagem a Olavo Bilac. Três anos mais tarde, foi lançado seu segundo livro, Luz Mediterrânea. Sua produção literária, porém, entre prosa e poesia foi publicada de modo esparso e irregular nos jornais e revistas da época.

Raul de Leoni nunca se associou abertamente a nenhuma escola literária, o que fez com que sua carreira poética tivesse sido um tanto discreta em vida, apesar do seu talento ser reconhecido. Em finais do século XX, a sua obra, apesar de pequena, era alvo de aprofundados estudos e cativava inúmeros leitores.

O poeta destacou-se ainda como desportista tendo vencido diversas provas de natação e remo em representação do clube Icaraí.

Doente dos pulmões, em 1923, Raul de Leoni afastou-se dos amigos e da família, deixou o trabalho de inspetor numa companhia de seguros e isolou-se em sua casa em Itaipava, onde veio a falecer em 21 de novembro de 1926.

Passaram-se 35 anos até que fosse publicada uma antologia de poemas seus, intitulada Trechos Escolhidos.

Raul de Leoni foi casado com D. Ruth Gouveia de Leoni Ramos e seu único filho, Luciano, faleceu ainda criança, com apenas 4 anos.

Poemas de Raul de Leoni

Argila

Nascemos um para o outro, dessa argila
De que são feitas as criaturas raras;
Tens legendas pagãs nas carnes claras
E eu tenho a alma dos faunos na pupila…

Às belezas heróicas te comparas
E em mim a luz olímpica cintila,
Gritam em nós todas as nobres taras
Daquela Grécia esplêndida e tranquila…

É tanta a glória que nos encaminha
Em nosso amor de seleção, profundo,
Que (ouço ao longe o oráculo de Elêusis)

Se um dia eu fosse teu e fosses minha,
O nosso amor conceberia um mundo
E do teu ventre nasceriam deuses…

Decadência

Afinal, é o costume de viver
Que nos faz ir vivendo para a frente.
Nenhuma outra intenção, mas, simplesmente
O hábito melancólico de ser…

Vai-se vivendo… é o vício de viver…
E se esse vício dá qualquer prazer à gente,
Como todo prazer vicioso é triste e doente,
Porque o Vício é a doença do Prazer…

Vai-se vivendo… vive-se demais,
E um dia chega em que tudo que somos
É apenas a saudade do que fomos…

Vai-se vivendo… e muitas vezes nem sentimos
Que somos sombras, que já não somos mais nada
Do que os sobreviventes de nós mesmos!…

Pudor

Quando fores sentindo que o fulgor
Do teu Ser se corrompe e a adolescência
Do teu gênio desmaia e perde a cor,
Entre penumbras e deliquescência,

Faze a tua sagrada penitência,
Fecha-te num silêncio superior,
Mas não mostres a tua decadência
Ao mundo que assistiu teu esplendor!

Foge de tudo para o teu nadir!
Poupa ao prazer dos homens o teu drama!
Que é mesmo triste para os olhos ver

E assistir, sobre o mesmo panorama,
A alegoria matinal subir
E a ronda dos crepúsculos descer…

Legenda dos dias

O Homem desperta e sai cada alvorada
Para o acaso das cousas… e, à saída,
Leva uma crença vaga, indefinida,
De achar o Ideal nalguma encruzilhada…

As horas morrem sobre as horas… Nada!
E ao poente, o Homem, com a sombra recolhida
Volta, pensando: “Se o Ideal da Vida
Não vejo hoje, virá na outra jornada…

Ontem, hoje, amanhã, depois, e, assim,
Mais ele avança, mais distante é o fim,
Mais se afasta o horizonte pela esfera;

E a Vida passa… efêmera e vazia:
Um adiantamento eterno que se espera,
Numa eterna esperança que se adia…

Platônico

As idéias são seres superiores,
— Almas recônditas de sensitivas —
Cheias de intimidades fugitivas,
De crepúsculos, melindres e pudores.

Por onde andares e por onde fores,
Cuidado com essas flores pensativas,
Que tem pólen, perfumes, órgãos e cores
E sofrem mais que as outras cousas vivas.

Colhe-as na solidão… são obras-primas
Que vieram de outros tempos e outros climas
Para os jardins de tua alma que transponho,

Para com ela teceres, na subida,
A coroa votiva do teu Sonho
E a legenda imperial da tua Vida.