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ARTIGO ANALÍTICO DE UMA FÁBULA DE ESOPO / LA FONTAINE – JOSÉ CARLOS DE SOUZA BINI

ARTIGO ANALÍTICO DE UMA FÁBULA DE ESOPO / LA FONTAINE

Artigo de autoria de João Carlos de Souza Bini, em dezembro de 2023.

Membro da ABP ─ Academia Brasileira de Poesia / Casa de Raul de Leoni.

 

A TARTARUGA E A LEBRE

 

Todos conhecem essa fábula. Há uma corrida entre os dois animais, a Tartaruga vence, depois que a Lebre perdeu tempo se distraindo pelo caminho. A moral da história é que “devagar se vai ao longe”, ou também, que “a sorte premia os obstinados”.

Mas quem disse que foi só isso que aconteceu? A Lebre se distraiu pelo caminho, no entanto, não ficou “somente” perdendo tempo. Também ficou com os amigos celebrando a vida e o momento presente. A Lebre é aquela que não perdeu o senso de encantamento diante da beleza do mundo e da paisagem ao redor. Soube olhar para os lados, não apenas fixamente para a frente, e captar o mistério e a luz que vive e que envolve todos os seres.

Consequentemente, ela não perdeu. Na verdade, foi generosa o suficiente para evitar que o pobre adversário sofresse uma esmagadora e humilhante derrota. Igualmente generosa para conceder à Tartaruga, cuja existência sempre foi cercada de um obscuro anonimato, o prazer inesquecível de ter o seu momento de fama.

Para a Lebre, aquela competição possuía apenas um caráter lúdico e pueril, realmente uma brincadeira extrovertida numa manhã de verão.

Para a Tartaruga, era a corrida de sua vida. Mesmo que tivesse mais cem anos pela frente, aquele momento de vitória seria para sempre celebrado em seu solitário e encouraçado coração.

Dessa forma, ainda que não tenha se detido olhando para os lados, pois tinha a vida inteira para fazer isso, ela igualmente não perdeu, na medida em que sonhou e realizou a fantasia de poder ser mais, e ainda superou suas limitações.

Pelo exemplo da Lebre, concluímos que também se ganha quando se perde, na condição em que, no âmago da dimensão desta mesma perda, soubermos enriquecer nosso ser na direção da transcendência e do aprimoramento espiritual.

Além de que, como sabemos, o caminho percorrido na viagem costuma ser, invariavelmente, mais interessante do que o ponto de chegada.